

Artigo escrito por Lusa Vilar, por solicitação de Paulo Patriota, publicado no Blog
O Dia da Luz!
Itapetim não se queixa das noites iluminadas somente pela luz da lua, porque sua alma poética sabe que “não há oh! gente, Oh! não luar como este do sertão!”
Itapetim não se esquece do romantismo alimentado pelas belíssimas serenatas de Franco, Pedrinho Rêgo, Valdir e Vivaldo de Zé Gongô, Zezé de Delfino e outros que arrebentavam corações apaixonados ao som de violões, cavaquinhos e canções dos enamorados, que favorecidos pela penumbra da luz da lua, filtrada pelas nuvens, que pairavam nos céus da nossa terra lhes davam a devida inspiração.
Itapetim agradece aos prefeitos anteriores ao “DIA DA LUZ”, que mantinha a cidade iluminada das 6 da tarde até as dez da noite através do “motor da luz” de Seu Antônio Preto e do seu filho Inaldo, propiciando, além de outras coisas, a implantação de cursos noturnos que muito favoreceram pessoas que trabalhavam durante o dia, portanto só poderiam estudar à noite.
Todavia, Itapetim precisava - sem perder seu romantismo e sua alma poética - trazer a energia de Paulo Afonso como uma ação impactante para garantir o seu futuro desenvolvimento socioeconômico.
Há quarenta e três anos atrás muitos itapetinenses eram crianças, outros ainda não tinham nascido e hoje muitos já não estão mais entre nós.
O DIA DA LUZ já não é um passado tão recente, por isto sinto a necessidade de delinear uma breve panorâmica do cenário político pernambucano do século XX, a fim de situar os mais jovens no contexto deste fato memorável realizado no dia 17 de setembro de 1965.
Eu tinha apenas 17 anos, professoranda do curso pedagógico do Colégio Normal de São José do Egito, meu saudoso pai era o Prefeito de Itapetim, dele recebi a responsabilidade de representar a juventude da minha terra, naquele momento histórico, e fazer o discurso de saudação à caravana governamental que iria acionar a chave de ligação da luz de Paulo Afonso.
O tempo não pára, como diz a canção de Cazuza. Parece que foi ontem, mas na verdade foi no século passado, como costuma citar o Senador Marco Maciel, somos passageiros de um século como também somos passageiros de um milênio, pois já estamos no 3º milênio da Era Cristã.
Em 1964, mais precisamente no dia 1º de abril, portanto no ano anterior ao DIA DA LUZ, o Congresso Nacional declarou vaga a Presidência da República e no dia 20 do mesmo mês assumiu o General Humberto de Alencar Castelo Branco.
O Ato Institucional nº1 (AI-1), cassou mandatos, suspendeu a imunidade parlamentar e direitos políticos.
No nosso Estado o Governador Miguel Arraes de Alencar foi deposto, e assumia em seu lugar o Vice-Governador Paulo Pessoa Guerra.
Na Assembléia Legislativa o maior líder político interiorano, representante da Região do Pajeú, Walfredo Paulino de Siqueira, um matuto inteligente que só tinha o curso primário, mas nos deu a honra de ocupar por 17 vezes a cadeira de Governador, deixando para nós pajeuzeiros o orgulho de termos tido no cenário político do Estado um homem da sua envergadura.
Na prefeitura de Itapetim, Antônio Piancó Sobrinho que além de sócio era, sim, o amigo fiel de Walfredo, fato que ainda hoje muito nos honra.
Vivíamos as agruras do Golpe Militar, mas estávamos comandados pelas duas instâncias do poder por matutos que tiveram seus votos legitimados pelo povo, sendo o Governador Paulo Guerra o último daquele ciclo que chegou ao poder pelo voto direto na aliança que compora com o Governador Miguel Arraes.
Tínhamos um governador que costumava dizer em seus discursos: “Eu só tenho medo de ter medo” “Cheguei ao Governo pelo cheiro da pólvora e se um dia tiver que voltar gostaria de voltar com cheiro de povo.”
Esses homens, representantes do povo da nossa terra, vivenciaram a ditadura igualmente nós cidadãos que desafortunadamente víamos a nossa liberdade de expressão, nossos direitos e garantias constitucionais cerceados pelo golpe militar de 1964.
Foi nesse ambiente conturbado no cenário político nacional que O DIA DA LUZ chegou para os Itapetinenses.
Enquanto nós acendíamos a luz em Itapetim, o país entrava no apagão da liberdade, pessoas amargavam a escuridão das celas das prisões, pessoas eram espancadas até a morte e nunca mais veriam o clarão da lua, nem o clarão do sol e muito menos o clarão das luzes que se acendiam pelo interior a fora, pois, além de Itapetim 166 localidades foram contempladas com eletrificação, tendo sido investido Cr$ 15 bilhões para o cumprimento dessa meta que o Governador tinha como prioritária.
Esse dia chegou para nós porque a vontade política desse tripé governamental, Paulo Guerra, Walfredo Siqueira e Antônio Piancó, em instâncias de poderes diferentes, alinhados politicamente com o maior chefe da História Política de Itapetim, o Cônego João Leite de Andrade e outros grandes homens políticos de Itapetim, tinham em suas metas o objetivo maior de fazer crescer e se desenvolver o Estado, a Região e o Município.
A luz em Itapetim se acendia ignorando as trevas em que o país havia mergulhado e ignorando o silêncio, imposto pelas regras da ditadura, o povo gritava em praça pública extravasando a sua alegria.
No palanque o Governador Paulo Guerra, o Prefeito Antônio Piancó e entre outras autoridades o saudoso médico Dr. José Arlindo Leite Lopes, o Deputado Estadual Francisco Leite Perazzo e o Secretário do Governo Municipal Carlézio Monteiro de Medeiros, olhavam a multidão que se aglomerava para assistir o espetáculo da claridade das lâmpadas ornamentais que haviam sido colocadas na Igreja Matriz para serem acesas pela mão do governador.
O DIA DA LUZ chegou regado a coquetel na residência do Prefeito Antônio Piancó, a população veio à praça pública aplaudir aquele momento de glória, o palanque foi armado para os discursos das autoridades, os fogos espraiavam-se nos céus em agradecimento a Deus e aos governantes por aquela conquista.
Podemos dizer que a Chesf, que acaba de completar 60 anos, é produto do esforço da união brasileira pela eletrificação do Nordeste, podemos igualmente dizer que para Itapetim, ela é produto da união das forças do Governador Paulo Guerra no âmbito estadual e do Prefeito Antônio Piancó Sobrinho no âmbito municipal.
Enfim, não podemos esquecer que só foi possível o DIA DA LUZ para todos nós, porque um cidadão, pernambucano de nascimento, chamado Apolônio Sales, idealizou a Chesf, após a iniciativa de Delmiro Golveia de fazer o primeiro aproveitamento da cachoeira com a Usina de Angiquinho implantada no alto de uma rocha de difícil acesso, de posição quase inacessível.
Então por causa disto surgiu a Chesf, criada pelo Decreto-Lei nº 8.031, de 03 de outubro de 1945.
Apolônio Salles presidiu a Chesf por doze anos e foi o responsável pela construção da Hidrelétrica de Paulo Afonso, com capacidade instalada de 180megawatts.
A hidrelétrica de maior significado para nós é a de Itaparica, pois, está alojada em território pernambucano, com capacidade para gerar 1.500 megawatts, e foi batizada com o nome de Luiz Gonzaga o Rei do Baião.
Somos um povo rico de feitos memoráveis, fazendo memória desses homens que acabo de reverenciar e que já não estão mais entre nós, só poderemos desejar que em troca das luzes que nos deram, que recebam na eternidade a LUZ DE DEUS, como recompensa pelo saldo positivo de suas ações aqui na terra.